Ap. Jota Moura
Introdução
“A família é o
lugar onde se criam doenças psíquicas e psicossomáticas, e ela é a primeira
rede de apoio que preserva de adoecer em consequência de uma crise”. É fato que
cada geração tem a sua maneira de agir, sentir, pensar e decidir.
Entende-se por
“geração” como:
• o conjunto
dos indivíduos nascidos na mesma época;
• o espaço de
tempo (aproximadamente 25 anos) que vai de uma geração a outra (Aurélio).
Em uma família, várias gerações estão
presentes: avós, pais, filhos e netos. Isso significa a presença de variados
pensamentos, conceitos e valores. O que pode produzir competição, conflitos e
inveja. Então perguntamos: não é justamente este o
sentimento e a atitude que as pessoas mais querem esconder das outras? Sendo
assim, o caminho que escolhemos para trabalhar este tema é duplo: os valores na
família e como resolver conflitos entre gerações. Ainda mostrar que uma convivência pacífica e agradável é possível entre diferentes gerações, quando refletimos sobre os valores dos outros e seguimos princípios sólidos para resolver os conflitos. (Leia Tiago 3.13-18).
I. VALORES QUE FUNDAM UMA
FAMÍLIA
1) O que são valores - Valor é algo desejável ou útil. As pessoas valorizam o que desejam,
necessitam ou consideram interessante. Por causa disso, temos as nossas
preferências, escolhas. Escolher supõe que preferimos o mais valioso ao menos
valioso.
2) Objetos valiosos e atos
humanos valiosos - árvore, uma porção de terra, uma cadeira, um
carro, um computador, uma obra de arte, um livro, um tapete, um móvel de casa,
uma roupa, um animal de estimação, etc. Atos humanos
valiosos: ato moral, político, jurídico, cívico, econômico etc.
3) Os valores, de modo geral, podem ser: Positivos – Se alinham com os valores
bíblicos encarnados pelo cristão convertido. Negativos – A desonestidade, a
violência, o preconceito, a mentira, etc. Neutros
– “Qual pé devo calçar primeiro, o direito ou o esquerdo?”
4) Principais tipos de valores:
Extrínseco ou
instrumental – Algo que tem valor por causa dos efeitos
que produz, e não por causa daquilo que é em si mesmo. Ex.: uma casa
confortável. Intrínseco ou final –
Algo que é valioso em si mesmo. Ex.: a bondade, a lealdade, a justiça, o amor,
a verdade, etc.
De que maneira
os valores estão presentes nas famílias e nas diferentes gerações que formam as
famílias? Todos valorizam exatamente as mesmas coisas? Por que?
2. COMO ACONTECEM OS CONFLITOS DE
GERAÇÕES
De acordo com Eva Lakatos (Sociologia
Geral, Ed. Atlas), existe um processo sociológico de mudança
cultural comum a todas as culturas em todas as gerações.
1) Por Inovação - Alguém inventa algo, mostra seus valores e suas vantagens. Normalmente é
algo que vem para tomar o lugar de outra coisa. Ex.: Máquina de escrever x
computador.
2) Por Aceitação Social - Acontece quando a sociedade aceita o que foi inventado. É também a
assimilação de um comportamento novo. Ex.: Mulher ser árbitro de futebol.
3) Por Eliminação Seletiva - Acontece quando a sociedade vai deixando hábitos antigos para contrair
novos; os valores tradicionais vão caindo em desuso até desaparecer. Ex.: Liberação
sexual para todas as idades!
4) Por Integração Cultural - É o último e definitivo passo. Os novos valores e comportamentos vão se ajustando cada vez mais, até serem parte integral da família e sociedade. Ex.: Aceitação da homossexualidade como algo natural.
4) Por Integração Cultural - É o último e definitivo passo. Os novos valores e comportamentos vão se ajustando cada vez mais, até serem parte integral da família e sociedade. Ex.: Aceitação da homossexualidade como algo natural.
5) Por
Convicção religiosa - Isso que acabamos de abordar é muito
importante para entendermos a razão das mudanças culturais e dos valores na
família (Jo.17. 11-18). A igreja do Senhor Jesus Cristo sempre viveu em uma
sociedade, nunca fora dela (estamos em Cristo, mas vivemos também em Éfeso – Ef
1.1). Agora você entende a causa de muitos conflitos entre gerações. Entende
por que o avô quer que o neto se comporte da mesma maneira que ele, quando era
criança?
Isso não quer dizer que todas as mudanças na
sociedade e na família sejam benéficas. Aliás, em se tratando de mundo, a
maioria delas é degradação e não evolução. Colocamos o que segue apenas para
“abrir a mente”.
3. VERDADEIROS VALORES DO REINO
DE DEUS
O que é
bíblico nenhuma cultura pode derrubar ou superar. A lista abaixo, que não é
exaustiva, mas abrangente, tem por objetivo mostrar valores que, não importando
a geração, são absolutos e permanentes; válidos para qualquer época.
1) O
principal mandamento (Mc 12.28-31).
2) Ser uma nova criatura em Cristo Jesus ( Jo 3.3-5).
3) Salvar a alma ou ter a vida eterna (Mc 8.36).
4) Viver em paz (Pv 17.1).
5) Amar e ser amado (1Co 13.1-3).
6) Autenticidade (Mt 7.3).
7) Solidariedade, altruísmo e utilidade (Lc 10.30-37).
2) Ser uma nova criatura em Cristo Jesus ( Jo 3.3-5).
3) Salvar a alma ou ter a vida eterna (Mc 8.36).
4) Viver em paz (Pv 17.1).
5) Amar e ser amado (1Co 13.1-3).
6) Autenticidade (Mt 7.3).
7) Solidariedade, altruísmo e utilidade (Lc 10.30-37).
4. RESOLVENDO CONFLITOS ENTRE
GERAÇÕES
Para a mãe, que foi educada de forma a não
poder sair sozinha com o namorado (a irmã ou alguém tinha de ir junto), a não
poder beijar em público, fica difícil entender que sua filha possa ir a uma
festa e chegar tarde da noite.
Um pai que foi educado aprendendo que “lugar
de mulher é dentro de casa” também reluta em liberar a filha para trabalhar.
Tudo pode se complicar quando o antigo e o novo acabam coexistindo dentro da
mesma casa. Os filhos querem viver da forma dominante de sua época e acompanhar
os valores atuais; os pais geralmente acabam tentando se modificar para
compreender a forma de vida da nova geração, sem abrir mão dos valores que eles
trouxeram do lar no qual foram criados. E quando o avô ou avó moram em casa, as
diferenças de gerações são ainda mais evidentes. Evidentemente não temos uma
“receita” pronta. Mas temos princípios que podem ser aplicados nos
relacionamentos interpessoais, quando há atritos devido às diferenças de
gerações.
1) Comunique o conflito - A Bíblia não recomenda o silêncio quando há problemas ou pecados. “Se teu irmão pecar contra ti, vai argui-lo entre ti e ele só. Se
ele te ouvir, ganhaste a teu irmão” (Mt 18.15). O verbo
“arguir” pode ser traduzido como “trazer à luz”, “expor”, “mostrar a falta ou
erro”, “mostrar a razão dos fatos”, “convencer alguém de sua falta ou
erro”. “Vai argui-lo” implica uma atitude, um movimento
em direção ao ofensor, ao que está nos ferindo. “Se ele te ouvir, ganhaste a
teu irmão.” O verbo “ganhar” quer dizer “poupar alguém de um dano, perda ou
prejuízo”. O que acontece é que muitas vezes falamos do conflito a todos, menos
à pessoa que realmente precisa saber. No ensino do nosso Mestre, deve-se falar:
“vai argui-lo”!
2) Faça bom uso das
“diferenças” - Se você puder entender a posição do outro
apenas como uma posição diferente – nem melhor nem pior – a vida familiar
ficará mais fácil e também mais rica e simples a convivência. Há um provérbio
indiano que diz: “Não critique um homem antes de andar um quilômetro com seus
sapatos”. Tente vivenciar o conflito sob o ponto de vista da outra pessoa.
Dessa maneira, os avós ou sogros podem se transformar em valiosa fonte de
aprendizagem, pois carregam uma bagagem de vida com ricas contribuições a dar
aos demais. Portanto, se as diversas opiniões sobre uma mesma questão são
usadas de modo a enriquecer a percepção pessoal e a percepção sobre os outros,
o jovem pode abandonar suas posições inflexíveis para assumir um posicionamento
que compreenda a opinião dos pais.
3) Faça diferença entre o
essencial e o secundário - A palavra “secundário”
vem do latim “secundu” que literalmente é “segundo”. Portanto, “secundário” é
aquilo que é de menor importância em relação a outrem ou a outra coisa; algo de
pouco valor, insignificante, inferior (Aurélio). Daí a necessidade de se
identificar e discernir os conflitos, porque, muitas vezes, a causa maior não
passa de interesse pessoal ou coisa de pouca importância. Você já ouviu falar
do casal que brigava constantemente porque ao colocar o papel higiênico no
papeleiro do banheiro a mulher gostava que o papel saísse por baixo, enquanto o
marido insistia que deveria sair por cima? Incrível!
Há muitas coisas que são importantes, mas não
são fundamentais. E muitos conflitos podem ser evitados com bom senso e
tolerância, na medida que identificamos o que é essencial e o que é secundário;
ou o que é inegociável e o que é tolerável. Quantas vezes brigamos por algo que
daqui a pouco tempo não terá valor algum para nós mesmos!
5. A BÍBLIA FALA SOBRE A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA
A
Bíblia traz instruções sobre a convivência com os familiares, a alegria da vida
em família e sua importância na formação do nosso caráter. É por meio da família que aprendemos os primeiros
valores que nos seguirão por toda a vida. São as noções de como nos
relacionaremos em sociedade, a percepção do mundo em que vivemos e a instrução
pelo caminho em que possivelmente seguiremos. Sagrada, a família é o nosso
porto seguro, onde encontramos o apoio necessário para os momentos de
dificuldade e alegria da partilha diária.
Por isso,
trazemos abaixo algumas frases da Bíblia sobre a importância da família:
1) Relacionamento do casal - Desfrute a vida com a mulher a
quem você ama, todos os dias desta vida que Deus dá a você debaixo do sol; Pois
essa é a sua recompensa na vida, pelo seu árduo trabalho debaixo do sol. (Eclesiastes 9:9)
2) Honra dos filhos aos pais - Honra teu
pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor, o teu
Deus, te dá. (Êxodo
20:12)
3) Educação dos pais aos filhos - Instrua a
criança segundo os objetivos que você tem para ela, e mesmo com o passar dos
anos não se desviará deles. (Provérbios 22:6)
4) Fruto da boa pedagogia familiar - Ouça, meu
filho, a instrução de seu pai e não despreze o ensino de sua mãe. Eles serão um
enfeite para a sua cabeça, um adorno para o seu pescoço. (Provérbios 1:8-9)
5) Valorização entre gerações - Os filhos
dos filhos são uma coroa para os idosos, e os pais são o orgulho dos seus
filhos.
(Provérbios 17:6)
6) Filhos como herança do Senhor - Os filhos
são herança do Senhor, uma recompensa que ele dá. Como flechas nas mãos do
guerreiro são os filhos nascidos na juventude. Como é feliz o homem que tem a
sua aljava cheia deles! (Salmos 127:3-5)
7) Testemunhando a fé aos filhos - Os vivos,
somente os vivos, te louvam Senhor, como hoje estou fazendo; os pais contam a
tua fidelidade a seus filhos. (Isaías 38:19)
8) Transmissão das obras de Deus às gerações - Não os esconderemos dos nossos filhos; contaremos à próxima geração os
louváveis feitos do Senhor, o seu poder e as maravilhas que fez. (Salmos 78:4)
9) Quando honrar é obedecer - Filhos obedeçam aos seus pais no Senhor, pois isso é justo. Honra teu
pai e tua mãe, este é o primeiro mandamento com promessa: para que tudo te
corra bem e tenhas longa vida sobre a terra. (Efésios 6:1-3)
10) A prática da fé cristã começa na família - Mas, se uma viúva tem filhos ou netos, que estes aprendam primeiramente
a pôr a sua fé cristã em prática, cuidando de sua própria família e retribuindo
o bem recebido de seus pais e avós, pois isso agrada a Deus. (I Timóteo 5:4)
Conclusão
A família que
deseja que todos sejam réplicas uns dos outros e não assimila as diferenças
acaba obstruindo o crescimento de todos. Maria Luiza Dias em seu livro Vivendo em Família (Ed. Moderna), acrescenta: Na
infância, tudo o que vem dos pais e avós geralmente parece correto, mesmo que a
criança resista a obedecer – os pais são vistos como aqueles que já conhecem
mais sobre o mundo.
Na adolescência, a tendência é de oposição,
de polarização com os pais. O mundo bom parece ter princípios opostos. Na vida
adulta, espera-se ter encontrado uma posição mais madura, onde o indivíduo
tenha sido capaz não só de “peneirar” as experiências, reter consigo o que
avaliou como uma boa contribuição da família, como também de elaborar algumas
mudanças, dentro do que considera ser a maneira pessoal mais adequada para as
necessidades atuais.
Sendo assim, a família sadia é aquela que
doou a seus membros uma provisão para a vida e, ao mesmo tempo, permitiu a sua
diferenciação; que permitiu que cada um vivesse a sua individualidade sem ser
individualista, sem abrir mão dos valores bíblicos (que são eternos) e sem
esquecer de ensinar a fazer diferença entre o essencial e o secundário. Ao
contrário do que se pensa, uma geração deve aprender com outra, havendo assim,
uma integração de gerações.