“E este evangelho do reino será pregado no mundo inteiro, em
testemunho a todas as nações, e então virá o fim.” (Mt. 24.14)
Todos nós fomos formados num contexto religioso em que a palavra
Igreja é muito mais familiar do que a palavra Reino e, no geral não há boa
compreensão por parte dos crentes sobre o que é o Reino de Deus e o que é a
Igreja. Vamos tratar do assunto na forma de perguntas e respostas, para facilitar
a exposição e a própria compreensão do tema. Primeiramente abordaremos a visão
do Reino para depois então contrastar com a ideia de Igreja e a consequente
aplicação prática do assunto.
1. QUANDO COMEÇOU O REINO DE DEUS?
1) Desde que Deus criou o universo - Ele é Rei
sobre tudo e sobre todos. Na narrativa da criação, em Gênesis 1 e 2, fica claro
que Deus criou todas as coisas, inclusive o homem para submeter ao Seu domínio.
2) Ao criar o homem deu-lhe três mandatos - que ele
teria de obedecer para ser eternamente feliz: um mandato cultural (Gn. 1:26;
2:15 e 20); um mandato social (1:28; 2:18, 21-23 e um mandato espiritual
(2:16-17).
3) Deus dominaria sobre o homem - e o homem dominaria sobre
a criação (2:28) como um vice gerente de Deus na terra e tudo funcionava em
perfeita harmonia. Deus como Rei de toda criação provia de alimento o homem e
os animais (Gn. 1:29-30). O Reino funcionava em perfeita ordem.
2. QUE ACONTECEU APÓS A QUEDA?
1) Após a desobediência dos nossos primeiros pais - e o
consequente pecado, foi quebrada a harmonia desse Reino. O que vemos daqui em
diante é uma raça humana prejudicada cultural, social e espiritualmente.
2) A palavra “queda” define esta nova situação - Deus
ainda é o Rei como sempre será Rei, mas a raça humana, ou seja, os servos do
reino estão afetados pelo pecado, foram atingidos pela queda e, portanto, estão
sem condições de cumprir, pelo menos de forma correta, os mandatos estabelecidos
no início.
3) Atitudes tomadas por Deus diante da queda - Em Gênesis
3:15, em cima das ruínas e desmoronamento do Reino, Deus faz uma promessa de
restauração, prometendo um Restaurador (Gn. 3.15). Aquele que viria esmagar a
cabeça de Satanás, autor do pecado e iniciador de um império de trevas, pecado
e desobediência. Um dia todo este domínio pecaminoso estará sujeito ao
Restaurador, ou seja: debaixo dos pés do Senhor Jesus Cristo. A partir da
promessa, começaram as providências para a chegada desse reino restaurado.
3. QUAIS COISAS CRISTO VEIO RESTAURAR NA TERRA?
1) Jesus veio não só para restaurar o homem - mas toda
a criação, toda a terra que foi amaldiçoada com o pecado (Gn. 3:17-18); os
animais que sofrem as consequências do pecado (Os. 4:3). Paulo disse em Romanos
8:22 que “toda a criação geme”, aguardando a restauração (Cl. 1.13).
2) Paulo fala que Cristo veio para reconciliar - com Ele
mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus
(Cl 1:20). No livro de Apocalipse, que retrata o fim da obra restauradora de
Cristo, está expresso: “eis que faço novas todas as coisas” (Ap. 21:5).
3) Paulo fala ainda das coisas do fim - “depois
virá o fim, quando tiver entregado o Reino a Deus, ao Pai e quando houver
aniquilado todo império, toda potestade e força (do mal)” 1Co. 15.24).
Portanto, o Reino dos céus, que é o Reino de Jesus, não compreende só pessoas,
mas todas as coisas. Ele é o Restaurador de tudo.
4. POR QUE OS EVANGELHOS FALAM TANTO EM REINO?
1) Os Evangelhos usam mais de cem vezes a palavra “reino” - isso
porque eles registram a chegada de Cristo em cumprimento das promessas; e a Sua
chegada aqui foi descrita por João Batista e pelo próprio Cristo como a
chegada do Reino de Deus (Mt. 3:2; 4:17).
2) Com a vinda de Cristo e Sua obra - e o
ministério dos apóstolos, inaugurou-se a implementação do Reino que crescerá
até à consumação dos séculos. Jesus ilustrou o crescimento do reino com as
diversas parábolas, quando sempre ensinava: “O Reino dos céus (ou de Deus) é semelhante...”
(Mt. 13). Na oração Dominical Ele nos ensinou a orar pedindo entre outras
coisas: “venha o teu reino”. No Sermão do Monte, Ele ensinou que a nossa
preocupação deve ser com o reino de Deus, quando disse: “buscai, pois, em
primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão
acrescentadas” (Mt. 6.33). Jesus falou do Reino de modo abrangente, mostrando
que Deus cuida de homens, animais e plantas.
3) O Evangelho do Reino nos foi deixado a proclamar a todos - (Mt. 4:
23; 4:35; 24:14); esta mensagem restauradora é a “Palavra do Reino” (Mt.
13:19). Os que são de Cristo, os quais foram alcançados pelo Evangelho do
reino, são chamados “filhos do reino” (Mt. 13). O importante para o pecador é
que ele entre no Reino de Deus, pela porta da regeneração, do novo nascimento:
“Se alguém não nascer de novo não pode entrar no reino de Deus” (Jo. 3:3,5). A
ênfase dos Evangelhos é que preguemos o “Evangelho do Reino”, para a entrada de
pecadores arrependidos e regenerados no “Reino de Deus”.
5. POR QUE OS EVANGELHOS FALAM TÃO POUCO DE IGREJA?
1) Os quatro Evangelhos só se referem à Igreja duas vezes - (Mt.
16:18 e 18:17). A primeira referência é à promessa de Jesus de edificar a
Igreja, no futuro: “Edificarei a minha Igreja”. O Reino estava presente, mas a
Igreja ainda não. Após a morte e ressurreição de Cristo e a vinda do Espírito
Santo, o Reino haveria de crescer muito. Jesus disse a Pedro que lhe daria as
chaves do Reino: “Eu te darei as chaves do Reino dos céus...” (Mt.
16:19). E foi no dia de pentecostes (Atos 2.14) que Pedro usou essas chaves, e
quase três mil pessoas entraram para o Reino, através do arrependimento e da Fé
em Cristo.
2) No Livro de Atos dos Apóstolos nasce a Igreja em Pentecostes - Pedro
usando as chaves pela segunda vez, através da pregação da palavra, em Atos 3,
por ocasião da cura do coxo, diz-nos Lucas que o número dos discípulos chegou a
quase cinco mil (At 4:4). Até então, ainda não havia aparecido a palavra
“Igreja” em Atos. Ela vai aparecer pela primeira vez em Atos 5:11, por ocasião
da disciplina aplicada sobre Ananias e Safira. A partir daí, até Apocalipse 3,
é citada a palavra por mais de cem vezes. No contexto do crescimento do Reino,
pela entrada de milhares e milhares de pessoas, é que surgiu a Igreja ou
igrejas.
3) Na maioria das vezes a palavra “Igreja” aparece no singular -
referindo-se a um grupo de crentes em determinada cidade. Quando aparece no
plural “igrejas”, refere-se a vários grupos de crentes em certas regiões. Neste
contexto, Igreja é a forma visível do Reino; é a sua estrutura organizacional
e administrativa. As igrejas são grupos organizados de servos do Rei a serviço
do Reino. Ainda hoje chamamos de “Igreja” um determinado número de crentes
estruturados sobre certos princípios. Um grupo que tenha liderança bíblica
para a sua administração, conforme Efésios 4.11. Neste sentido as igrejas
podem ser chamadas de agentes ou embaixadas do Reino de Deus na terra. Quando
servimos na Igreja, servimos ao Reino e para tanto nos organizamos em Igreja.
6. QUAL É NOSSA MISSÃO NO REINO ATRAVÉS DA IGREJA?
1) Somos chamados a viver e servir na missão do Reino onde fomos
plantados - Em Atos 19: 8; 20:25; 28:23 e 31 Lucas diz que Paulo “pregava o
Reino”. Também é interessante que nas Escrituras somos chamados de “servos”;
isto porque o Reino tem “servos”; e a Igreja tem “membros”.
2)
No contexto da volta de Cristo e do futuro eterno do povo de Deus - não aparece a palavra Igreja. Em Apocalipse
a palavra “Igreja” só aparece no capítulo 3 e em 22.16, falando das sete
igrejas da Ásia Menor. Na eternidade só haverá o Reino de Deus e de seu Filho
Jesus Cristo (Ap. 11:15). Como Jesus dirá na Sua vinda: “vinde benditos de
meu Pai, possuí por herança o Reino que vos está preparado desde a fundação do
mundo” (Mt. 25:34).
3) O Reino de Deus foi entregue pelo Pai a Cristo - Ele é o Rei e será Rei para todo
sempre. Todo poder foi dado a Ele nos céus e na terra (Mt 28:18 e Dn. 7:14);
Ele é rei sobre os crentes, sobre os Seus servos que entraram em Seu Reino e
fazem a Sua vontade andando no caminho do Reino, exercerá juízo e condenará
todos os ímpios. Um dia Ele entregará novamente o Reino restaurado ao Pai (1
Co. 15:24 e Ap. 11:15).
7. QUAL A IMPORTÂNCIA DE ANDARMOS NA VISÃO DO REINO?
1) Difundir esta ideia é muito importante - pois uma grande maioria dos crentes
só se preocupa em atender as exigências para se manterem como membros de uma
Igreja e nada fazem a favor do Reino. Outros se esforçam muito quando o esforço
visa fortalecer à estrutura local de sua Igreja e pouco ou quase nada fazem a
favor do Reino. Devemos nos lembrar que a Igreja não é um fim em si mesma; não
trabalhamos, em primeira mão para o crescimento da Igreja e sim para o
crescimento do Reino. Embora o crescimento seja recíproco porque o Reino
crescendo, cresce também a Igreja e sua estrutura. Uma Igreja deve cuidar bem
de sua estrutura e de sua organização, visando melhor trabalhar a favor do Reino
dos céus.
2) A visão do Reino tira-nos dos limites das quatro
paredes - de
nossos templos, eleva os nossos olhos além da estrutura orgânica de nossas
igrejas para uma obra muito mais ampla e para desafios muito maiores. Devemos
nos lembrar que antes de sermos membros da Igreja, somos servos do reino;
servir a Igreja e não servir o Reino é estar fora dos propósitos do Rei Jesus.
3) Não pode haver bons membros da Igreja sendo
maus servos do Reino - Se formos bons servos do Reino, certamente
seremos também bons membros da Igreja. Quantos crentes que desagradam da Igreja
e deixam de trabalhar e de contribuir; estes são maus membros e maus servos. Sejamos
bons membros e bons servos. Assim poderemos orar: “Venha o teu Reino”; assim
teremos motivação para “buscar primeiro o Reino de Deus” antes de qualquer
outra preocupação. Irmãos, “vamos nós trabalhar, somos servos do Reino de
Deus”. Amém!
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